sexta-feira, 26 de abril de 2013

Poesias, poesias, poesias.... Eu amo poesia!

Queridos alunos,
conforme prometido, estou colocando aqui algumas sugestões de poemas e de poetas que vocês podem utilizar para as declamações em duplas e trios.
Beijos
Jor

Alguns nomes de poetas importantes:

Carlos Drummond de Andrade
Cassiano Ricardo
Castro Alves
Catulo da Paixão Cearense
Cecília Meireles
Cora Coralina
Décio Pignatari
Fabrício Carpinejar
Ferreira Gullar
Fernando Pessoa
Francisco Alvim
Haroldo de Campos
João Cabral de Melo Neto
João Guimarães Rosa
José Paulo Paes
Manoel de Barros
Manuel Bandeira
Marcos Siscar
Mário de Andrade
Mario Quintana
Michel Melamed
Murilo Mendes
Paulo Henriques Britto
Paulo Leminski
Souzândrade
Vinícius de Moraes


Visitem os sites para encontrar textos:

Alguns poemas que podem ser escolhidos:

Não sei quantas almas tenho
Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho. 
Cada momento mudei. 
Continuamente me estranho. 
Nunca me vi nem acabei. 
De tanto ser, só tenho alma. 
Quem tem  alma não tem calma. 
Quem vê é só o que vê, 
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo, 
Torno-me eles e não eu. 
Cada meu sonho ou desejo 
É do que nasce e não meu. 
Sou minha própria paisagem; 
Assisto à minha passagem, 
Diverso, móbil e só, 
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo 
Como páginas, meu ser. 
O que segue não prevendo, 
O que passou a esquecer. 
Noto à margem do que li 
O que julguei que senti. 
Releio e digo :  "Fui  eu ?" 
Deus sabe, porque o escreveu. 



Vendaval
 Fernando Pessoa
Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,  
Não achas, soprando por tanta solidão,  
Deserto, penhasco, coval mais vazio  
Que o meu coração!  
Indômita praia, que a raiva do oceano  
Faz louco lugar, caverna sem fim,  
Não são tão deixados do alegre e do humano  
Como a alma que há em mim!  

Mas dura planície, praia atra em fereza,  
Só têm a tristeza que a gente lhes vê  
E nisto que em mim é vácuo e tristeza  
É o visto o que vê.  

Ah, mágoa de ter consciência da vida!  
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,  
Que rasgas os robles — teu pulso divida  
Minh'alma do mundo!  

Ah, se, como levas as folhas e a areia,  
A alma que tenho pudesses levar -  
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia  
De eu ter que pensar!  

Abismo da noite, da chuva, do vento,  
Mar torvo do caos que parece volver -  
Porque é que não entras no meu penssamento  
Para ele morrer?  

Horror de ser sempre com vida a consciência!  
Horror de sentir a alma sempre a pensar!  
Arranca-me, é vento; do chão da existência,  
De ser um lugar!  

E, pela alta noite que fazes mais'scura,  
Pelo caos furioso que crias no mundo,  
Dissolve em areia esta minha amargura,  
Meu tédio profundo.  

E contra as vidraças dos que há que têm lares,  
Telhados daqueles que têm razão,  
Atira, já pária desfeito dos ares,  
O meu coração!  

Meu coração triste, meu coração ermo,  
Tornado a substância dispersa e negada  
Do vento sem forma, da noite sem termo,  
Do abismo e do nada!   

Santa Maria
(Madrugada de 27.1.2013)
(Fabrício Carpinejar, 27.01.2013, 22:10)
Morri em Santa Maria hoje.
Quem não morreu?
Morri
na Rua dos Andradas, 1925.
Numa ladeira encrespada de fumaça.

A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul.
Nunca uma nuvem foi tão nefasta.

Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia.
Seguirá sozinha, avulsa,
página arrancada de um mapa.

A fumaça corrompeu o céu para sempre.
O azul é cinza,
anoitecemos em 27 de janeiro de 2013.

As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte
nunca mais será controlada.

Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa.
Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.
Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda.
Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência.

Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa.
Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram.

Morri sufocado de excesso de morte;

como acordar de novo?

O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista.
A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados.
Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço.

Não vão se lembrar de nada.
Ou entender como se distanciaram de repente do futuro.

Mais de duzentos e quarenta jovens sem o último beijo
da mãe, do pai, dos irmãos.

Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal.
As famílias ainda procuram suas crianças.
As crianças universitárias estão eternamente no silencioso.

Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu
As palavras perderam o sentido




Navegar é Preciso
Fernando Pessoa
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:    
"Navegar é preciso;  viver não é preciso".  

Quero para mim o espírito [d]esta frase,    
transformada a forma para a casar como eu sou:  

Viver não é necessário;  o que é necessário é criar.   
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.   
Só quero torná-la grande,    
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.  

Só quero torná-la de toda a humanidade;    
ainda que para isso tenha de a perder como minha.   
Cada vez mais assim penso.  

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue    
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir   
para a evolução da humanidade.  

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.  


LAMENTO DO OFICIAL POR SEU CAVALO MORTO
Cecília Meireles
Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos, 
pela nossa cabeça embrulhada em séculos de
                                                [ sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas 
                                                [ ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem
                                          [ explicação.

Criamos o fogo, a velocidade, a nova
                                          [ alquimia,
os cálculos do gesto,
embora sabendo que somos irmãos.
Temos até os átomos por cúmplices, e que
                                          [ pecados
de ciência, pelo mar, pelas nuvens, 
                                          [ nos astros!
Que delírio sem Deus, nossa imaginação!

E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha
                                  [ que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não
                               [ sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.

Animal encantado — melhor que nós todos! —
                              [ que tinhas tu com este 
                              [ mundo dos homens?
Aprendias a vida, plácida e pura, e
                                      [ entrelaçada
em carne e sonho, que os teus olhos
                                      [ decifravam...
Rei das planícies verdes, com rios trêmulos 
                                      [ de relinchos...
Como vieste a morrer por um que mata seus
                                      [ irmãos?


A rosa de Hiroxima
Vinicius de Moraes
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada 

Uma pedra de sal no oceano


SOFRIMENTO
Henriqueta Lisboa
No oceano integra-se (bem pouco)
uma pedra de sal.

Ficou o espírito, mais livre
que o corpo.

A música, muito além
do instrumento.

Da alavanca,
sua razão de ser: o impulso,

Ficou o selo, o remate
da obra.

A luz que sobrevive à estrela
e é sua coroa.

O maravilhoso. O imortal.

O que se perdeu foi pouco.

Mas era o que eu mais amava.



OS LÍRIOS
Henriqueta Lisboa
Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.

Quero saber como crescem
simples e belos — perfeitos! —
ao abandono dos campos.

Antes que o sol apareça
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.

Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.

Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.

Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre os lírios
adormecerei tranqüila.



Para que serve o pássaro?
Orides Fontela
ELEGIA (I)

Mas para que serve o pássaro? 
Nós o contemplamos inerte. 
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas. 
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos? 

O que era vôo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido, 
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico

O que era pássaro e é
o objeto: jogo
de uma inocência que
o contempla e revive
— criança que tateia
no pássaro um
esquema de distâncias —

mas para que serve o pássaro? 

O pássaro não serve. Arrítmicas
brandas asas repousam. 

O homem, as viagens 
Carlos Drummond de Andrade
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto — é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto 
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

A verdade dividida
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso 
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Infância
Carlos Drummond de Andrade
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre  mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que  aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Sonhos da menina
Cecília Meireles
A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho 
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho 
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .
Na lua há um ninho
de passarinho.
A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho


A Língua de Nhem
Cacília Meireles
Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.

E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...

O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também

a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...

Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,

e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...

De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém,

ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Veja a animação do poema A língua do Nhem
http://www.f7.com.br/oda38.htm


SEGREDINHOS DE AMOR
Elias José
Gosto muito de vocês,
Muito mesmo,
Mas não me peçam explicação,
Pois não vai dar pra contar
O que vai morrer comigo,
O que já fechei no meu poço. 
Vocês sabem como são
Os segredinhos de amor
Todo mundo tem os seus
E pobre de quem não tem...


Sei, de fato, 
Entre amigos há sempre um pacto,
Um elo belo,
Mas não vale tão fato
Pros segredinhos de amor. 

Não, não é medo do ridículo.
Nem é o meu segredo um conflito.
Pode até ser coisa infantil
E até meio boba,

Mas segredo é segredo,
Coisa guardada a medo
Pra alegria e tortura
Só da gente 

E um segredo é muito mais segredo
Se for um segredinho de amor!


TEM TUDO A VER 
Elias José
A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o vôo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
- é só abrir os olhos e ver –
tem tudo a ver
com tudo.

O tempo é um fio
Henriqueta Lisboa
 O tempo é um fio fino bastante frágil.
Um fio fino que à toa escapa.
O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro com gentileza.
Com mais empenho franças espessas.
Malhas e redes com mais astúcia.
O tempo é um fio que vale muito.
Franças espessas carregam frutos.
Malhas e redes apanham peixes.
O tempo é um fio por entre os dedos.
Escapa o fio, perdeu-se o tempo
Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa!
Mas ainda é tempo!
Soltai os potros aos quatro ventos,
mandai os servos de um pólo ao outro,
vencei escarpas, dormi nas moitas,
voltai com tempo que já se foi...

A ESTRELA
Manuel Bandeira
Vi uma estrela tão alta, 
Vi uma estrela tão fria! 
Vi uma estrela luzindo 
Na minha vida vazia. 

Era uma estrela tão alta! 
Era uma estrela tão fria! 
Era uma estrela sozinha 
Luzindo no fim do dia. 

Por que da sua distância 
Para a minha companhia 
Não baixava aquela estrela? 
Por que tão alto luzia? 

E ouvi-a na sombra funda 
Responder que assim fazia 
Para dar uma esperança 
Mais triste ao fim do meu dia.

BELO BELO
Manuel Bandeira
Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdá e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero. 


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